Aquacultura ou aquicultura é a produção de organismos aquáticos,
como a criação de peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios e o
cultivo de plantas aquáticas para uso do homem.
A maricultura refere-se especificamente a
aquicultura marinha, enquanto a piscicultura refere-se ao cultivo de peixes
principalmente de água doce. Já a carcinicultura é
a criação de camarões.
Esta
atividade é praticada há muito tempo, existindo registros de que os chineses já
a cultivavam vários séculos antes de nossa era e de que os egípcios já criavam
a tilápia-do-nilo (Sarotherodon
niloticus) há 4000 anos.
Atualmente,
a proporção do pescado cultivado em viveiros para o total da produção mundial é
da ordem de 10%, com tendência a aumentar. Estima-se a produção mundial de
peixes cultivados em trinta milhões de toneladas por ano.
Vantagens e benefícios
De
acordo com a FAO (Food
and Agricultural Organization), órgão das Nações Unidas responsável pelo estudo dos problemas
dealimentação no mundo, um hectar cultivado
com peixes produz mais do que com qualquer outro animal. Enquanto os mamíferos
dependem das características do ar para a sua respiração e manutenção da
temperatura corporal, o peixe flutua, se locomove e regula sua temperatura
interna com muito mais facilidade em virtude da densidade do seu corpo ser
praticamente igual à da água. Dessa forma, os peixes despendem muito pouca
energia para a flutuação, locomoção e manutenção de sua temperatura interna, o
que lhes garante uma maior conversão da energia contida nos alimentos que
consomem em carne, alcançando uma altíssima produtividade. Por isso, a
aquacultura assume importância cada vez maior no panorama do abastecimento
alimentar mundial.
A
aquacultura também oferece vantagens sociais às populações de inúmeros países
onde o pescado marinho
não pode chegar em boas condições sanitárias e a preços razoáveis.
Surge
de uma forma ainda bastante pioneira um pouco por todo o mundo, a aquacultura
em mar aberto ou offshore. Para os peixes o cultivo é realizado através de
jaulas flutuantes, que podem ser de superfície ou submersíveis, dependendo do
hidrodinamismo do local. Relativamente aos moluscos bivalves o cultivo é feito
através de long-lines. Em Portugal Continental, foi delimitada em 2009 a
primeira Área de Produção Aquícola (APA), denominada de Área Piloto de Produção
Aquícola da Armona (APPAA), situada em Olhão, no Algarve, ao largo da ilha da
Armona. Portugal devido ao seu contexto geográfico, histórico e económico
revela grandes potencialidades para a expansão da aquacultura em mar aberto.
Produção rural de peixes
No Brasil, a maior parte das atividades
relacionadas ocorre em propriedades rurais comuns.
Na
grande maioria, essas fazendas são dotadas de açudes ou represas. A atividade agropecuária normal de
uma fazenda produz uma série e quantidades variáveis de subprodutos que de
maneira geral não são aproveitados, principalmente quanto à sua possível
transformação em proteínas para consumo humano: capins, frutos passados, palhas
diversas, varreduas de depósitos de rações, camas de estábulos egalinheiros, águas
servidas de estábulos, pocilgas, pequenos matadouros, resíduos de biodigestores, etc, que
os peixes em cativeiro aproveitam integralmente. Além disso, pode
acrescentar-se água servida em laticínios e o bagaço ou torta de filtragem da cana-de-açúcar,
entre outros subprodutos de usinas de açúcar e álcool.
Utilizando
pouca mão-de-obra, a piscicultura nos açudes e represas não conflita com as
demais atividades desenvolvidas numa fazenda. Pelo contrário, é um complemento
muito proveitoso, dado que tem a característica básica de reciclar subprodutos
e resíduos, transformando-os em proteína animal.
No
Brasil, as espécies primitivas de valor comercial - o pacuguaçu (Colossoma
mitrei), o dourado (Salminus
maxillosus), o tambaqui(Colossoma macropomum), o pintado (Pseudoplatystoma
corruscaus), entre outros - não se reproduzem em tanques. São as chamadasespécies
de piracema, que dependem da injeção de hormônios naturais e sintéticos
para a reprodução. Essa técnica, antiga e descoberta por brasileiros, tem se
popularizado rapidamente.
O
desenvolvimento da piscicultura brasileira teve por base as espécies exóticas
que se reproduzem em tanques e permitem o cultivo controlado. É o caso da tilápia comum,
tilápia-do-nilo, entre outros. A migração da base de produção para as espécies
de piracema é relativamente recente, sendo posterior à Década de 1970.
As
tilápias e as carpas são
as espécies mais adequadas para criação em represas e açudes das propriedades
rurais, devido à sua rusticidade. As espécies carnívoras, como o trairão e o tucunaré devem ser utilizadas apenas como
auxiliares no controle do excesso de reprodução das tilápias, não se
recomendando sua criação isolada. A inserção de espécies carnívoras é benéfica
para melhorar a qualidade do peixe obtido, que cresce mais em menos tempo. No
entanto, a inserção deve ser feita com muito cuidado, pois pode causar sérios
problemas ecológicos caso haja fugas das espécies carnívoras para os rios locais.
A
adubação das águas é um dos aspectos mais importantes da criação de peixes em
cativeiro, representando o enriquecimento das águas. Pode ser feito de várias
maneiras. Se for possível, as águas usadas para lavar estábulos e pocilgas
devem ser levadas para os açudes, desde que não causem poluição do meio aquático por excesso de
volume. Sua presença em pequenas quantidades propiciará o incremento da
produção natural de plâncton. Além de
fertilizarem a água, os estercos são também diretamente ingeridos pelos peixes.
De uma maneira geral, pode usar-se o esterco de curral na proporção de duas
toneladas por hectare, duas vezes ao ano.
Os
adubos químicos também podem ser utilizados, embora não apresentem resultados
tão bons quanto os orgânicos, preferencialmente associados ao esterco para a
obtenção de melhores resultados.
Na
região de Campos do Jordão,
há grande produção de trutas. A truta brasileira ganha mais peso que
as correspondentes americanas e japonesas, além de sabor característico.
Portanto,
as propriedades agrícolas providas de açudes apresentam um potencial bastante
grande para a produção perene de peixe de alta qualidade e a custos baixos.
Problemas
A
aquacultura tem sido em anos recentes um dos segmentos de crescimento mais
rápido da produção alimentar global. Tem sido saudada como uma resposta para os
problemas resultantes da diminuição das populações selvagens de pescado, devido
à sobrepesca e a outras causas.
Não
obstante, em 2003 houve
bastante debate acerca dos méritos da aquacultura. Em países como Reino Unido, Canadá e Noruega, o cultivo de salmão e
de truta são
as formas de aquacultura de mais rápido crescimento, mas a medida que este tipo
de exploração se expande tem vindo a afetar a qualidade dos peixes selvagens,
particularmente do salmão.
Na
aquacultura intensiva ou industrial usam-se rações e outros produtos para
maximizar a produção, entretanto os efluentes podem prejudicar o ecossistema se lançados no meio ambiente sem o devido tratamento. Alguns vêem a
produção orgânica de peixes como uma forma de manter a qualidade do pescado sem
alterar o equilíbrio ambiental.
Há
também quem critique o valor social da aquacultura, que teoricamente ajudaria
aos mais pobres, mas para grupos como o Greenpeace, na prática,
a aquicultura serve a grandes grupos multinacionais, e não beneficia
diretamente as populações ribeirinhas locais.
A
criação intensiva de crustáceos como o camarão também é questionada pelo Greenpeace: os
criadores utilizam grandes quantidades de proteínas de baixo custo, incluindo
peixes também criados através da aquacultura, como ração para produzir produtos
de alto valor, caso do camarão. De acordo com eles, isso só faz os investidores
ficarem ricos, enquanto o capital e outros recursos poderiam ser usados de
outra maneira para produzir mais comida para mais gente.
Um
outro problema da aquacultura é o potencial para aumentar a disseminação de espécies invasivas, visto que freqüentemente as
espécies criadas não são nativas das
áreas de cultivo. Quando há fugas do criadouro para o meio ambiente é frequente
que os animais introduzidos se revelem mais resistentes que as espécies nativas
e praticamente tomam de assalto os ecossistemas. Outro problema potencial é a
disseminação de parasitas e pragas introduzidas.
No
Brasil, há casos de regiões invadidas por tucunarés (espécie nativa da Amazônia)
acidentalmente introduzida em ecossistemas de outras regiões, provocando grave
predação nas espécies locais.
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