quinta-feira, 1 de março de 2012

Biomassa das algas tem grande potencial na fabricação de remédios, alimentos e etanol

As Kappaphycus avarezzi, originárias das Filipinas, são cultivadas em uma fazenda em Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro
 (Miguel Sepúlveda/Divulgação)
As Kappaphycus avarezzi, originárias das Filipinas, são cultivadas em uma fazenda em Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro
Responsáveis por quase metade do oxigênio liberado na atmosfera, as algas marinhas são mais que ingredientes do sushi ou o “matinho” irritante que se prende nas pernas de banhistas na praia. Diversas pesquisas mostram que elas podem ser transformadas em remediadoras ambientais (como ajuda contra danos à natureza), fármacos, cosméticos e até biocombustíveis. Isso com a vantagem de ser uma matéria-prima que não precisa de terra para brotar nem água doce para vingar. Cultivadas no mar ou em piscinas, dispensam também o uso de fertilizantes e pesticidas.
Divididas em dois grupos, micro e macroalgas, essas plantas superpoderosas são organismos ricos em polissacarídeos/açúcar (as macros) e lipídios/gorduras (as micros), necessários para a produção de biodiesel. Como estão expostas às adversidades, as algas desenvolvem sofisticadas moléculas químicas, como agentes metabolizantes secundários, diferentemente de estruturas de plantas terrestres. As espécies mais usadas nas pesquisas são a Gracilaria domingensis, Gracilaria birdiae, algas vermelhas brasileiras, e Kappaphycus avarezii, originárias das Filipinas. Delas, são extraídos a carragena e o ágar, muito úteis na produção de alimentos e remédios.

Apostando nos benefícios dessas plantas, o professor de bioquímica Pio Colepicolo Neto, da Universidade de São Paulo, coordena projeto de exploração das algas marinhas e o uso da sua biomassa como fonte de remédios e de recursos biológicos economicamente viáveis para o tratamento de áreas degradadas. “Elas podem tratar águas poluídas, pois absorvem os poluentes orgânicos, usando-os como esqueleto carbônico para sintetizar biomoléculas importantes, como aminoácidos, bases nitrogênicas, proteínas e lipídios. Poluentes metálicos são absorvidos pelas algas, que imobilizam os metais em seus vacúolos, espécie de ‘tentáculos’ da planta.”

Para o bioquímico, as algas desempenham papel fundamental no ambiente e, “com criatividade e interesse”, é possível inovar em diferentes áreas da ciência. Colepicolo Neto explica que as algas servem de base para a produção de antifúngicos e que o uso deles aumenta a vida útil das frutas e verduras em até quatro semanas. “O que fizemos foi cultivar em laboratório os fungos que atacam as frutas e descobrimos o extrato algal, borrifado na fruta, como atividade antifúngica”, afirma.

No lado farmacêutico, o professor afirma que as algas servem de base para a fabricação de filtros solares. Por precisar de luz solar para sobreviver, as plantas têm micosporinas, substância química capaz de absorver radiação ultravioleta (UV) e ainda com ação antioxidante.


Negócio em expansão 

Com tantos prós e poucos contras, o biólogo marinho Miguel Sepúlveda viu no cultivo das algas uma chance de empreender. Em 1998, ele introduziu em Ilha Grande (RJ) as fazendas de macroalgas da espécie Kappaphycus avarezii. Ele trouxe o broto da Venezuela e, depois de deixá-lo em um descanso de 40 dias no laboratório de camarões em Santa Catarina, iniciou o cultivo experimental. Essa pausa é importante para a planta brotar. Depois de cinco anos de avaliação tecnológica acerca do impacto ambiental e dos níveis de crescimento, o biólogo chegou à carragena, usada, entre outros produtos, em xaropes, cremes de barbear e embutidos. Atualmente, apoiado pela GDK S/A e Instituto Otaviano de Almeida Oliveira, Sepúlveda comercializa a alga seca e em gel bruto. “É possível extrair das algas um composto vitamínico de A a Z que pode ser usado na alimentação, como adubo e como marcador de poluição. São inúmeras as funções”, salienta.



http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2010/09/30/interna_tecnologia,182850/biomassa-das-algas-tem-grande-potencial-na-fabricacao-de-remedios-alimentos-e-etanol.shtml

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