sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O mar não é para todos

por Erik Azevedo
Esta interessante entrevista narrada por um colega que é Engenheiro de Pesca, mostra claramente como o sistema adotado no Brasil pela DPC é injusto e falho.

Nós do BlogMercante já mostramos aqui que em países desenvolvidos, a indústria da pesca é um dos ramos da indústria marítima, porem no Brasil a vaidade e falta de conhecimento de quem gerencia o sistema segregou este importante ramo.

Nestes países as mesmas universidades que formam oficiais e técnicos para tripular navios mercantes, formam também tripulações das embarcações pesqueiras, como é em Portugal, Espanha, Austrália, França, Inglaterra, Noruega, Itália, EUA,  Japão e até no Peru e Chile.
Navio bacalhoeiro Portugues, foto Paulo Vergas
Navio bacalhoeiro Português, foto Paulo Vergas
Enquanto não removerem o véu de ignorância, embarcações pesqueiras modernas de outras bandeiras continuarão a pescar em nossa costa sem transferência tecnológica por carência de mão de obra local.
“Realmente para trabalhar no mar requer aptidão, me formei em 2004, destes anos para cá, só trabalhei embarcado e tenho a maior certeza do que sou feliz e realizado.” - Engenheiro de Pesca Felipe Pimentel
BlogMercante -Como você começou sua carreira profissional?

Felipe Pimentel -Realmente, já faz um tempo que trabalho no mar, antes mesmo de entrar na UFRPE, meu pai era armador de barcos de pesca artesanal (pesca de covo) e semi industrial (espinhel pelágico), sempre estava metido nessas atividades, em seguida entrei no curso de engenharia de pesca.
Já formado, passei 1 ano embarcando como observador de bordo em embarcações chinesas, estas tinham a espécie alvo o atum, o petrecho de pesca era o espinhel pelágico.


Barco de pesca pelágica da qual nosso colega é Patrão de Pesca
Barcos chineses
Os embarques estrangeiros foram sofridos, principalmente os chineses, onde a cultura é completamente diferente da nossa, passei momentos difíceis, tanto na alimentação, acomodação e comunicação. O embarque era de 30 dias, onde meu trabalho era assimilar a tecnologia de pesca, identificar as espécies capturadas e quantificá-las para estudos de CPUE.
Os chineses brigavam todos os dias, entre eles; nós brasileiros (1 observador e 2 pescadores) não interferíamos nesta confusão, a comida era horrível, então sempre levava uma feira por fora e mesmo assim passava perrengue, mas no final deu tudo certo. Com estes embarques, consegui assumir o comando de um barco de pesca.

BlogMercante – Como é o curso de Engenharia de Pesca?

Felipe Pimentel – O curso de engenharia de pesca é muito bom, tanto na parte de pesca extrativa como na aquicultura; as cadeiras específicas são muito bem ministradas pelos professores, a grade curricular é bem ampla, pagamos navegação I, navegação II, temos aulas práticas, Radar, GMDSS.
BlogMercante – Na sua opinião há falhas nos critérios para o ASON/M?

Felipe Pimentel – O meu patrão, está abrindo uma empresa no apoio marítimo, inclusive ele já tem um barco que transporta óleo combustível para Fernando de Noronha, já prestamos alguns serviços para Fugro e Spectrum, o nome da embarcação chama-se Rocky, inclusive este meu ultimo embarque foi para prestar apoio a um navio sísmico o Polar Explorer (sísmica de 2 D), tenho experiência na navegação por meio de cartas náuticas, navegação eletrônica, ARPA, e  já fazíamos um resgate em alto mar de uma embarcação que foi ao fundo, tenho conhecimento de todos os equipamentos de segurança a bordo (EPIRB, TRANSPONDER, etc) e realmente fico triste que toda esta experiência não ser considerada, no processo seletivo que hoje em dia é por provas.


Trabalho de uma Observadora de Mamíferos Marinhos em navios sísmicos - foto Erik Azevedo
BlogMercante – Você também trabalhou no mar em outras atividades além da pesca, poderia nos contar à respeito?
Felipe Pimentel – Depois desta experiência profissional, comecei a embarcar como técnico ambiental e MMO (Observador de mamíferos marinhos), em plataformas de petróleo, navios eletromagnéticos e barcos de apoio na atividade sísmica, foi 1 ano de trabalho. Porem agora fazem 5 anos que trabalho como patrão de pesca na captura de atuns e afins.

BlogMercante – Como é seu trabalho na pesca hoje em dia?

Felipe Pimentel – Está frota localiza-se em Natal, onde grande parte das embarcações tem autonomia de 30 dias de mar, o petrecho de pesca é o espinhel pelágico, modelo americano, usamos lula (molusco) como isca e trabalhamos em média com 1200 anzóis, além da lula como isca trabalhamos com atratores luminosos (eletro lume), estes dobram o índice de captura.
A metodologia de pesca é realizada da seguinte forma: A embarcação possui um tambor hidráulico, onde este tem a função de armazenar a linha principal, num total de 100 km. O horário de lançamento normalmente ocorre às 14:00 hrs e esta operação termina às 22:00 hrs, neste material de pesca encontram-se boias rádio, para localização deste equipamento , que é lançado em regiões oceânicas e de fato fica a deriva. Numa viagem de 15 lançamentos levamos em torno de 3500 kg de lula, 20.000 litros de óleo, etc…Este aparelho é lançado numa proporção de 5 anzóis e uma boia (boia bala).
No dia seguinte às 03:30 hrs da manhã in inicia-se o recolhimento, onde as linha secundárias são desconectadas da l inha principal e está é armazenada no tambor. A velocidade de recolhimento é de 4,0 nós, onde a espécie alvo é atum e o espadarte, estes peixes são armazenados no gelo.

Esta pescaria de espinhel pelágico realizada em Natal, tem a programação  para pescar a partir do quarto crescente até o quarto minguante, são nestas fases que os atuns tem uma distribuição vertical concentrando-se mais na superfície do mar, a 80 metros - 50 metros, onde estão localizados os anzóis lançados.
O normal, é passarmos 22 dias embarcados e 8 dias em terra. Minha função a bordo é de patrão de pesca, onde sou responsável pelos resultados das pescarias, navegação, área de pesca, profundidade do material, horário de lançamento e recolhimento e qualidade do pescado. É isso, espero ter ajudado em algo.

http://www.blogmercante.com/2012/01/entrevista-asonm-nao-e-para-todos/

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