O projeto é inovador e o primeiro no Brasil a realizar a reversão por temperatura, sem utilização do hormônio, normalmente adicionado à ração dos alevinos
Um dos gargalos enfrentados na produção de tilápia é encontrar alevinos e juvenis de qualidade. Essa é a atividade desenvolvida pelo S3 Piscicultura, implantado em Registro, no Vale do Ribeira. O projeto é inovador e o primeiro no Brasil a realizar a reversão por temperatura, sem utilização do hormônio, normalmente adicionado à ração dos alevinos.
O sistema empregado é a sexagem dos alevinos, realizada com o aumento da temperatura da água. Com essa técnica o órgão feminino (ovário) não se desenvolve e as fêmeas passam a ter o mesmo desenvolvimento dos machos, alcançando maior tamanho em menor tempo. Em seis meses os peixes estão prontos para abate, com peso em torno de 750 a 800 gramas.
Segundo a proprietária da S3 Piscicultura, a zootecnista Thais Gornati Gonçalves, a procura por alevinos e juvenis de qualidade é grande e vem de todo o Estado de São Paulo, do Paraná e até do Ceará, para onde os alevinos são enviados de avião.
O projeto começou em 2007, quando Thaís e o irmão Eduardo resolveram aproveitar a propriedade de 98 hectares, que contava com três grandes açudes e um cultivo já meio abandonado de bananas. O Sítio São Silvestre transformou-se na S3 Piscicultura depois de Thais concluir a sua formação em zootecnia e passar por um estágio no polo da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios em Pariquera-Açu. A produção comercial teve início em 2009.
São 44 tanques destinados às três famílias de matrizes de tilápia Gift (Genetically Improved Farmed Tilapia), originária do sudeste asiático e adquiridas da Universidade Estadual de Maringá (PR). A Gift é resultado do cruzamento entre tilápias nilóticas e tailandesas e apresentam como diferencial maior rendimento de carcaça, crescimento mais rápido e melhor conversão alimentar.
Nesses tanques, machos e fêmeas são separados por família, para evitar a consanguinidade e preservar as características genéticas. Quando atingem o tamanho adequado, cerca de dois centímetros, é feita a sexagem. Depois são levados para a estufa de alevinagem e quando estão com cerca de 60 gramas vão para os tanques de juvenis, onde recebem um microchip de identificação para que seu desenvolvimento possa ser acompanhado.
Todo este trabalho é verificado e acompanhado pelos pesquisadores da Apta-Polo Regional do Vale do Ribeira e do Instituto de Pesca e pela extensão rural da CATI.
O engenheiro agrônomo João Naves da Silva Junior, da Casa da Agricultura de Iguape, afirma que a CATI colabora, junto com os institutos de pesquisa e pisciculturas particulares, na promoção de cursos aos interessados na atividade. A nutrição, a conversão alimentar e a qualidade da água são temas importantes dessa capacitação, já que irão determinar o sucesso ou o fracasso na piscicultura.
O diretor da CATI Regional Registro, Luiz Antonio de Campos Penteado, acredita que os pequenos produtores podem dar continuidade às pisciculturas nos tanques já existentes, desde que melhorem sua tecnologia de produção. Ele alerta para as dificuldades em obter sucesso com novos empreendimentos, principalmente por se tratar de uma área de preservação ambiental como o Vale do Ribeira, o que dificulta a obtenção de licenciamento ambiental.
Penteado e João Naves lembram que a piscicultura em tanques escavados, utilizados na região, foi forte na década de 1990 e depois decaiu, mas concordam que existe o potencial, principalmente na introdução do peixe na alimentação escolar.
Para tanto, é importante fortalecer a atividade, através da Associação dos Piscicultores do Vale do Ribeira (Aquivale), já que a piscicultura está entre as cinco cadeias produtivas de maior importância econômica na região, sendo responsável por 1.200 toneladas anuais de peixe e com potencial para muito mais com capacitação e tecnologia adequadas.
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